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Coisas de coração de mãe…

Crônicas do Itapema, por Jorge Souza

Minha mãe mora lá no Itapema. A sua casa, pintada de cor de mel, fica no alto com uma vista bem de frente com a curva do rio. Na frente da varanda tem um pé-de-coqueiro que enche de sabiás na época dos coquinhos maduros. Na frente da casa tem um terreiro gramado e continuando o terreiro tem um pé-de-acerola, tem também canteiro de couve no meio do pomar. Para o lado do rio desce um pequeno morrinho, passando por uma parreira. Deste ponto até o barranco do rio o terreno é  plano. Ali   tem um pequeno canavial de cana-caiana, pé-de-carambola e araçá. Às vezes, neste pequeno terreno, tem plantação de milho. Quando acaba-se de colher as espigas, meu irmão planta feijão-fava por entre as fileiras para aproveitar o tronco do milho.

Há também pés-de-pêssegos em formação, jabuticabeira, pé-de-abacate, limão-siciliano, limão-galego, limão-cravo, limão-taiti. Não pensem vocês que com esta limonada toda  a vida dela seja azeda, ao contrário, é doce até demais. Nós, filhos, estamos impondo um regime a ela  – dada a sua teimosia está muito difícil –  já minizamos  o canto dos passarinhos, os sussuros do vento, o silêncio do rio correndo, o brilho da lua cheia, o nascer do sol. Estas coisas tem adoçado muito a vida dela – ela anda com o nível de glicose um pouco alto.

Uma coisa que antigamente havia na casa da minha mãe era galinheiro. Hoje não tem mais. Eu me lembro: galinha–de-angola, galizé, galo-índio, galinha-de-pescoço-pelado, galinha-carijó, peru, marreco, ganso, pato e muito ovo caipira! Falando desta galinhada toda, lembrei-me de um caso que aconteceu entre eu e ela:

Foi num domingo, todo os meus seis irmãos e o meu pai  haviam almoçado. Apenas eu e minha mãe ainda não. Naquele dia, fui jogar futebol no campo do Itapema. Entre um rebate e uma pelada, a hora passou e nem vi! Também pudera… Alguém já viu um coração feliz  de menino  saber ver as horas?

Quando cheguei em casa fui direto para a cozinha e lá dentro do fogão o meu prato coberto com um paninho branco  me esperando.

– Vai comer agora, Jorge, ou vai tomar banho?

– Que tomá banho nada! Tô com uma fome danada. Todo mundo já almoçou?

– Só está faltando eu e você. Não vou nem esquentar a comida… Ainda tá quentinha.

E assim fomos para a mesa. Eu e minha mãe. Foi neste dia que eu fiquei impressionado com ela.

No meu prato ela me deixara um apetitoso peito de frango com aquela pelinha bem tostadinha, amareladinha –  do jeito que ela sabia que eu gostava. E para ela, sabem o que  reservara? Um pé-de-frango todo branquelo.

Mãe, nunca me esqueci disto. Me desculpe por não agradecê-la por isto. Filhos, às vezes, são assim: ingratos.

Por Jorge Souza – Do livro Crônicas do Itapema, O Plantador de Poesias (Editora DGuararema) – jorge.p.souza@hotmail.com

Postado em 19 de agosto de 2016

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