Congada e a raiz da Liberdade
da fé e da tradição familiar
O dia 13 de maio tornou-se uma data mais que especial desde 1888, quando a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea e aconteceu a abolição da escravatura. Os escravos foram trazidos da África para o Brasil para trabalhar nas lavouras e por quase 300 anos sofreram realizando trabalhos pesados, sendo comercializados e tratados como objetos e vivendo em condições desumanas. No entanto, mesmo após a abolição da escravatura, mantiveram-se no Brasil e nos deixam a maior riqueza que poderiam: séculos se passaram e vemos ainda a influência da cultura africana na história e tradição brasileiras. Cheia de riquezas, detalhes, emoção…
Uma delas é a Congada, dança dramática que remete à coroação de reis africanos, introduzida no Brasil com a chegada de grandes contingentes de negros escravizados. Diversas regiões brasileiras contaram com a presença dos africanos o que difundiu a cultura com várias formas de manifestações dramáticas e/ou coreografias… Todas com aspecto guerreiro em torno de figuras de reis do Congo, como representantes da Cristandade.
Esse tipo de manifestação, assim como o Moçambique, o Maracatu, entre outros, ressaltam a presença da visão de mundo africana. Seria uma forma de inclusão dos negros na sociedade colonial durante festividades religiosas ou oficiais. E voltadas para os santos de devoção negra como São Benedito, Santa Ifigênia e Nossa Senhora do Rosário.
Atualmente, as Congadas são muito presentes em festividades populares como as festas de São Benedito e a do Divino Espírito Santo. Festas que são comemoradas há séculos e que apresentam grupos como a Congada Santa Ifigênia, de Mogi das Cruzes, que tem suas raízes na região de Conselheiro Lafaiete, em Minas Gerais.
O grupo já esteve presente na Estação Literária, em a href=http://guararematem.com.br/ target=_blank rel=noopenerGuararema/a, em ocasião especial, para prestigiar o lançamento do livro de Wagner Aparecido da Silva, “Viva Rei, Viva Rainha, Viva também o Seu Capitão” publicado pela Editora Baraúna.
Gislaine Afonso, a Capitã – Mor da Congada Santa Ifigênia, conta que seu pai, José Batista Afonso, o Capitão Zé Baiano (in memorian) recriou o grupo em janeiro de 1984, dando continuidade à congada fundada por seus pais, Maria Bahiana e Passarinho Afonso, em sua cidade natal, Santana dos Montes, em Minas Gerais. Em 1999, quando o Capitão Zé Baiano faleceu, a filha Gislaine passou a liderar o grupo ainda com sua mãe, a Capitã Iracema Afonso. Com emoção e orgulho, Gislaine perpetua a tradição da família, carregando o bastão que herdou do seu pai, passado de geração a geração por 190 anos. E os filhos de Gislaine também já fazem parte do grupo.
De percussão forte e impactante, impossível não remeter-se ao passado e transportar-se para o sentimento de valores que foram transmitidos séculos adentro. Uma cultura de devoção e tradição familiar, destacando-se por sua presença ainda em uma sociedade onde os valores têm sido esquecidos.
Durante o lançamento do livro, houve também a apresentação da Congada Nossa Senhora do Rosário, de São Paulo. Grupo tradicional que teve suas atividades retomadas recentemente e do qual o autor do livro, Wagner, também faz parte.
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VIVA REI, VIVA RAINHA, VIVA TAMBÉM O SEU CAPITÃO
Por Wagner Aparecido da Silva
“Congado é, sem dúvida, uma das manifestações populares e religiosas da cidade de Conselheiro Lafaiete e de toda Minas Gerais, pois apresenta características próprias influenciadas pelo folclore local. As músicas, as danças, as cantorias, as missas e os divertimentos profanos constituem as principais atrações desse folguedo.
Ao acompanhar os festejos, desde 1999, foi possível observar as modificações e transformações ocorridas nessa manifestação. Os símbolos dão as formas e dimensão religiosa a essa manifestação popular. Há a coroação de Rei e de Rainha, e suas cortes desfilam com toda devoção aos santos católicos.
É na forma devocional da tradição familiar que podemos buscar possíveis explicações quanto à sua origem, seu imaginário, sua memória e oralidade, para permanência dessa cultura. A nossa fonte para beber dessa manifestação é uma família; pessoas que trabalham para a continuidade dessa tradição”.
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O livro pode ser encontrado na Estação Literária, à Rua 19 de Setembro, 233 – Centro, em a href=http://guararematem.com.br/ target=_blank rel=noopenerGuararema/a.
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por Valéria Campanholle Parra – Jornalista – MTB 32.678
Fotos: Fernando Mayfair
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emPostado em 13 de maio de 2017/em